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Canto galego: os galegos no Brasil

março 31, 2010

Canto galego

Perla Ribeiro *

Não é fácil identificar onde eles estão. Afinal, sua cultura parece não ter se integrado à terra estranha, cheia de estivadores negros que impressionavam os imigrantes logo na chegada ao Porto de Salvador. Até o Galícia, o time do peito, acabou. Restam agora a delicatessen mais famosa da cidade, o clube e o hospital. E as lembranças dos espanhóis bem-sucedidos que, apesar da morriña, deixaram a vida dura na lavoura da Galícia para enfrentar o trabalho semi-escravo no Brasil.

Escravidão de imigrantes
Espanhóis trocam o arado pelo trabalho árduo em casas comerciais

Depois de anos numa rotina árdua, os imigrantes conseguiram se estabelecer como comerciantes *Foto: Reprodução Paulo Macedo/ Acervo da comunidade galega na Bahia

A família e os amigos ficaram a milhas e milhas distantes. Difícil deixar para trás a pátria e partir com destino a uma terra desconhecida como um “zé-ninguém”. Entretanto, a fome, a miséria e a guerras, indiretamente, lhes obrigavam partir. A nova vida era uma incógnita. Sabiam que pela frente encontrariam muito trabalho, mas mesmo assim, não baixaram a cabeça. Afinal, eles deixaram a Galícia determinados a construir uma nova história. Acostumados a arar o campo e tirar o seu sustento da terra, chegando a Salvador se deparam com outra realidade, as oportunidades de trabalho estavam na área do comércio. Por isso, as mãos que lavravam a terra tiveram que se adaptar a novas funções: carregar mercadorias, empacotar, passar troco e preparar a massa do pão.

E antes mesmo de despontarem os primeiros raios de sol já estavam eles na labuta. Com exceção de um pequeno intervalo para o almoço, para essa gente, o descanso só era possível depois de até 16h pegando no batente. Os comerciantes galegos que aqui se alojaram transportaram de lá um velho costume: trabalho e casa dividiam o mesmo espaço. Ou seja, no andar de cima, no sótão, ou ao lado do estabelecimento estava situada uma república que abrigava todos os funcionários, em sua maioria patrícios. De acordo com o antropólogo Jeferson Bacelar, eles chegam sozinhos, numa terra estranha, onde o seu único referencial é a casa de comércio. Sendo parentes ou não, o estabelecimento comercial é o seu local de trabalho, sua habitação, sua família por adoção, sua rede básica de amizades. “Jovens, ali são socializados e a dinâmica da realidade os faz, com facilidade, introjetar o sentido de pertencer. Ela é a sua casa, o seu mundo”, constata o estudioso na publicação Galegos no paraíso racial.

Fosse hoje, poderíamos classificar de trabalho escravo a condição a qual eram submetidos: carga horária exaustiva, as folgas quase não existiam e como a moradia e a alimentação eram oferecidas pelo empregador, em alguns casos, findava o mês e em vez de saldo, o empregado possuía uma dívida com o patrão. Neta de uma das primeiras mulheres galegas que migrou para Salvador, dona Noélia Leiro Baqueiro, 74 anos, afirma que era uma “escravidão branca”. “Minha avó contava que dormiam nos canteiros dos armazéns, em cima de sacos de farinha, feijão e açúcar”, recorda. Dona Manuela Dominguez Iglesias chegou aqui na primeira década do século XX. Ela veio com uma filha com menos de 2 anos e mais outros três filhos homens. O marido morreu logo que eles chegaram e ela teve que se virar sozinha para sustentar a família. Naquela época só vinham os homens, as mulheres chegaram depois. “Vovó teve muita coragem. Era uma mulher conhecida pela galegada inteira como uma mulher macho, uma mulher retada”, afirma dona Noélia.

Não importava se era domingo ou feriado, tinham que trabalhar todos os dias. “A gente trabalhava de 1� de janeiro a 31 de dezembro”, recorda o galego Lino Cerviño Duran, 77 anos, e desde 1946 vivendo em Salvador. Quando migrou, a Europa vivia o pós-guerra e a Espanha ainda estava sob o domínio do ditador Francisco Franco. O medo que houvesse uma nova guerra o impulsionou a deixar o país com destino à Bahia. Para um jovem cheio de sonhos, partir para o campo de batalha acabava com qualquer perspectiva de futuro. Podia até ser que um dia voltasse para casa ostentando no peito uma medalha de honra ao mérito, mas também era grande a probabilidade de ver pela última vez o nascer do sol no cenário de front. E com certeza não era aquilo que ele queria para sua vida. “Para deixar o país precisei percorrer 30 km a pé para conseguir uma certidão com idade inferior a que eu tinha. Depois que parti, por um bom período diariamente meu nome era anunciado na rádio oficial com o chamado para servir ao exército. Já em 1953, quando retornei à Galícia, nas ruas, as pessoas me olhavam e diziam: ”olhe aquele cara que fugiu do exército””, conta. Quando ele chegou, o pai já estava instalado aqui e era proprietário do Café Moderno, na Calçada. Três anos depois, o restante da família – a mãe e outros dois irmãos – aportavam na capital baiana.

Estatísticas

De acordo com dados do Consulado Espanhol no período, de 1861 a 1919 chegaram a Salvador 1.724 imigrantes. Já em 1936, foi constatada a presença de 3.601 espanhóis na Bahia. Embora não existam documentos que precisem os números, estudiosos apontam que até a metade do século XX o movimento imigratório manteve-se contínuo e tem maior expressividade após a Guerra Civil Espanhola e a Segunda Guerra Mundial, quando a Espanha enfrentou grave crise econômica. Dentre os poucos achados, constam os livros de registro de entrada de passageiros, existentes na seção republicana do Arquivo Público do Estado da Bahia, indicando que chegaram a Salvador entre 1883 e 1950, 17.737 espanhóis. “Tal fenômeno é resultante destas especificidades e também da crise global das estruturas socioeconômicas européias. São os instantes históricos em que a imigração espanhola para Salvador tem numericamente maior significação”, destaca o antropólogo Jeferson Bacelar.

Entre os estados mais cobiçados destacaram-se, em ordem de importância, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Embora a colonização tenha sido portuguesa, até hoje os espanhóis formam o maior grupo estrangeiro na Bahia. O motivo ninguém sabe explicar. “A colônia espanhola em Salvador é formada por maioria galega de uma mesma região e de uma mesma província, que é Pontevedra. E uma expressiva maioria pertence a dois povoados: Pontecaldelas e Ponteareas”, relata o atual cônsul da Espanha na Bahia, Ruan Serrat. Anos mais tarde, os patrícios de Ponteareas fundariam o Clube do Rio Tea, com sede em Lauro de Freitas.

Com a sucessão de atos dispositivos que visavam facilitar por meio da isenção de taxas e facilidades de recrutamento o número de emigrantes cresceu tanto que no período de 1882 a 1900 saíram da Espanha para a América cerca de 300 mil pessoas. Diante dos números, a legislação em vez de estimular a emigração passou a ser restritiva. O governo lançou mão do Real Decreto de 26 de agosto de 1910, que objetivava a proibição imposta aos emigrantes de viajarem gratuitamente para o Brasil. As companhias de navegação viam-se impedidas, a partir daquela data, de fechar com os interessados contratos que visassem o transporte de seus cidadãos. A emigração não estava proibida, mas só era possível se o custeio fosse feito pelos próprios emigrantes ou por parentes já emigrados, por meio das denominadas “cartas de chamada”. “Numa economia de recém-libertos escravos, que sofria com a escassez de mão-de-obra, bastava uma carta de chamada ou de garantia de emprego para ter passe livre no Brasil. É incrível como se permitia a entrada de crianças vindo exclusivamente para o trabalho”, afirma a descendente galega, Tina Leiro.

Poucos saíram de lá com uma situação econômica confortável. No máximo, com a ajuda de familiares, conseguiam juntar o dinheiro para a passagem. Em alguns casos, como muitos já migravam com um emprego certo, o dinheiro para a compra do bilhete em um dos navios era enviado pelo futuro patrão. Ou seja, antes mesmo de começarem a pegar no batente já haviam consolidado uma dívida com o seu empregador. A vida na Galícia agrária era dura, e aqui também, em um primeiro momento, a situação encontrada não era nem um pouco confortável.

Estreitando laços
Encontros sociais no Centro Espanhol divertiam as famílias e aproximavam os casais

Foi nas apresentações de dança do Clube Espanhol que muitos se tornaram namorados *Foto: Reprodução-Paulo Macedo/ Acervo da comunidade galega na Bahia

No Centro Espanhol, nos estádios torcendo pelo Galícia ou nas reuniões que faziam para recordar as lembranças da terra distante, sempre os galegos estavam se encontrando e estreitando ainda mais os laços. Bastava ter um tempinho de sobra e lá estavam eles transportando o imaginário para o outro lado do Atlântico e recordando de suas raízes. Tudo lembrava a pátria: os pratos típicos, as músicas espanholas, as histórias contadas, as cartas que eram lidas e relidas incansavelmente. Nessas reuniões, além de grandes amizades, surgiram também grandes amores. Sem sombra de dúvidas, a freqüência dos encontros e a convivência intensa acabavam facilitando a ação do cupido. Entretanto, para o antropólogo Jeferson Bacelar, a causa é vista sob outro ângulo: “Eles eram extremamente endogâmicos. Casavam entre si, viviam entre si e até nas relações trabalhistas procuravam manter-se juntos”, define.

Alguns se conheciam por aqui mesmo, outros retornavam somente para casar e ainda havia aqueles que se casavam lá e aqui. Na própria colônia espanhola, as opiniões se dividem sobre o assunto, mas a maioria não admite que havia racismo nas relações. “Meu avô paterno casou-se com uma espanhola e meu pai também. Eu acabei me casando com um descendente galego. No meu caso, conheci meu marido por causa da dança, quando me preparava para a apresentação da inauguração do clube. Nos conhecemos em julho e em setembro começamos a namorar”, conta a professora de dança Tina Leiro.

De acordo com o estudioso Jefersson Bacelar, a família é uma instância da cultura que aparece como unidade básica de reprodução do grupo galego em Salvador. É através dela que a tradição se faz mito de origem, sendo mantido de forma permanente o vínculo com a terra natal. “A família indica uma oposição marcante ao mundo baiano, na medida em que se perfaz endogamicamente. Casamento tem que ser dentro do grupo, mantendo as regras de sucessão, a forma específica de socialização e a unidade corporada do grupo. Casar com nacionais implica contaminar o grupo, desprestigiando-o e provocando a quebra dos valores galegos em Salvador”, defende Bacelar. Filha de galegos, dona Noélia Leiro Baqueiro acabou se casando com um descendente. Mas segundo ela, o fato de unir-se a um patrício não era uma exigência da família, no seu caso, foi o destino que os uniu. “Na nossa família nunca houve essa imposição, tanto é que meus irmãos se casaram com baianas. É a própria convivência que leva a isso. Entretanto, não podemos negar que também havia os casos em que as famílias exigiam este tipo de união”, afirma.

Engatando romances

Nem baiana nem espanhola, a mulher que o galego Lino Cerviño escolheu para ser a mãe de seus filhos foi uma portuguesa, dona Maria Júlia. Entretanto, o lugar que serviu de cenário para o romance foi o Centro Espanhol. Eles moravam na mesma rua, mas não se conheciam. Como possuíam amigos em comum, numa segunda-feira de Carnaval acabaram indo com o mesmo grupo para o clube. Embalado pelo clima de Carnaval, seu Lino criou coragem e na hora de ir embora pediu-lhe um beijo. “Ela não aceitou. Disse-me que ainda era muito cedo”, recorda. O Centro Espanhol parecia ter um clima todo especial para se engatar um romance. Repetindo um pouco da história dos pais, Délia Cerviño começou o namoro com o também descendente galego e hoje marido, Rogélio Veiga Peleteiro Filho, no clube. “Lembro que um amigo meu costumava dizer que o Centro Espanhol funcionava como uma feira onde íamos vender nossas filhas. Só que até hoje eu estou sem receber nada”, conta seu Lino, em tom brincalhão. Dos oito filhos, quatro deles casaram com descendentes espanhóis. Mas também houve aqueles que não conseguiriam resistir aos encantos das baianas.

Racismo ou não, ninguém sabe. A única certeza é que o casamento entre patrícios serviu para manter ainda mais acesos na família os traços e os valores da cultura espanhola. Além disso, como a maioria deles veio para Salvador com a promessa de juntar dinheiro e regressar, esta garantia era mais provável caso estivesse unida a uma pessoa de lá. Mas aos poucos a vida aqui foi melhorando e eles acabaram deixando para trás o sonho de voltar para junto dos seus. O empresário José Faro, por exemplo, afirma que gosta da Galícia como qualquer filho da terra, porém não se acostuma mais a viver lá. “Todo o ano visito o país. E aqui ainda temos meia dúzia de abnegados que mantêm nossa tradição e isso faz com que a gente ainda permaneça ligado às nossas raízes. Em minha casa, em determinadas ocasiões ainda mantemos a tradição da culinária espanhola, juntamos um grupo para ouvir nossas músicas, jogar cartas, ver filmes”, afirma José Faro Rua, que é casado com uma espanhola.

Povo encantado

Além de já estarem bem estabelecidos na capital baiana, ao mesmo tempo, desenvolveram também um amor por esta terra. Apesar de terem vivido momentos difíceis, eles não deixam de reconhecer que, em um primeiro momento, uma das coisas que encantava o imigrante era o povo baiano. “Lembro do carisma e a amabilidade com que eles recebiam a gente… O baiano é um povo muito bom para receber quem vem de fora”, reconhece José Faro. Por isso, nos discursos dos galegos é muito comum ouvi-los dizer que quando estão aqui sentem saudade de lá e quando estão lá morrem de saudades daqui. Em tom brincalhão, seu Manoel Antas Fraga afirma que o jeito é morar nas Ilhas Canárias, pois assim fica entre os dois países. Buscando unir as novas gerações da família com os seus antepassados, os Leiro Baqueiro organizaram em 2000 uma excursão para a Galícia. “Reunimos 36 membros da família que vivem aqui para encontrar nossos familiares que continuam lá. Foi uma experiência muito legal, é uma forma de manter a ligação com a Espanha, em especial com a Galícia”, considera Mônica Leiro Baqueiro.

A dança, a música e a culinária são as formas mais fortes de manutenção da cultura galega na Bahia. “Mesmo aqui minha família mantinha todas as tradições espanholas. Lá em casa minha mãe fazia empanada, cozido galego. Naquela época todos os pescadores iam bater nas portas dos galegos para vender polvo porque os baianos não queriam saber daquilo de jeito nenhum”, conta a professora Maria del Rosário. Mas aos poucos essa gente também vai incorporando elementos da cultura baiana. “Logo que saltei do navio, nas Docas, a primeira coisa que me deram foi um peixe frito no azeite. Achei muito estranho, porém, delicioso”, lembra José Faro Rua. Já seu Lino passava bem longe das baianas de acarajé para evitar sentir o cheiro de azeite. Aos poucos, o olfato foi se acostumando àquele cheiro e hoje ele se diz um apaixonado por acarajé.

A migração espanhola para a Bahia teve início há mais de um século. Nesse período, muitos galegos vieram, alguns construíram sua vida aqui, outros regressaram. Uns fizeram fortuna, outros não tiveram a mesma sorte. Entretanto, todos aqueles que aqui permaneceram conseguiram se integrar muito bem à nossa cultura. Porém não deixaram de lado seus costumes e tradições. Ainda hoje eles costumam se encontrar com os patrícios no Centro Espanhol, no Clube do Rio Tea, entre outras entidades aglutinadoras dessa cultura. Com o passar dos anos, o número de espanhóis que vivem aqui foi sendo reduzido. Mas além do legado econômico, eles deixaram marcas vivas, os descendentes, protagonistas que hoje dão continuidade às tradições e à cultura dos seus antepassados.

Sociedade estranha
Aversão recíproca marcava a relação dos galegos com os negros no Brasil

As reuniões sociais no Centro Espanhol eram o espaço de encontro dos patrícios *Foto: Reproduçôes de Paulo Macedo/ Acervo da comunidade galega na Bahia.

Pelos grupos dominantes, os brancos e ricos, eram desprezados. Já a relação com os negros era marcada pela aversão recíproca. Diante de si os galegos tinham uma sociedade estranha e hostil. Ou seja, eles estavam sozinhos. Ainda assim, retornar à pátria do jeito que vieram, jamais! Seria como admitir uma derrota. Eles saíram de lá com a promessa de retornarem vitoriosos e era necessário cumpri-la. “No início pensei muito em retornar, mas o orgulho não permitia fracassar. Para mim, aquilo seria voltar como um perdedor”, admitiu José Faro Rua. Aos poucos que não estavam preocupados com isso havia ainda um outro entrave: faltava-lhes dinheiro para a passagem de volta. Na ausência de outra saída, restava permanecer por aqui mesmo e ir à luta.

Uma das saídas encontradas para combater a terrível solidão era manter-se fortemente unido aos patrícios. Por isso, nas poucas horas de folga durante os finais de semana, eles estavam sempre juntos. Inicialmente a Praça da Sé e o Porto da Barra eram os locais preferidos para os encontros. Ali, entre eles tudo se transformava em uma verdadeira farra: trocavam notícias e lembranças da terra, falavam da saudade dos familiares e da vontade de voltar à pátria. “Naquela época a colônia era muito unida, a gente se encontrava sempre. Entre os anos 60 e 70, por exemplo, a moda era nos reunir no Farol da Barra e de lá íamos tomar sorvete na Primavera”, recorda, saudoso, José Faro Rua.

Mas só aqueles encontros não eram suficientes. Eles precisavam de um espaço onde pudessem manifestar sua cultura, um lugar acolhedor onde os patrícios pudessem se reunir para um bom bate-papo e estreitar ainda mais os laços da colônia espanhola. Foi a partir dessa idéia que nasceu o Centro Espanhol, inicialmente funcionando timidamente em um andar de um prédio na Piedade. “No Carnaval íamos todos para lá assistir da janela. Em outras ocasiões havia apresentação de dança espanhola. As mulheres ficavam sentadas ao redor do salão e os homens se distribuíam pelas mesas jogando cartas”, recorda a professora Maria del Rosário. Mas o espaço foi ficando pequeno para os encontros e acabou sendo transferido para a Avenida Sete de Setembro, n� 218. O terreno foi comprado em março de 1946 e em julho de 1948, um baile de gala marcava a inauguração da sede. Estavam lá grandes autoridades, inclusive, o então governador Otávio Mangabeira.

“Foi lá que passei os meus primeiros carnavais. Lembro bem que a coisa que eu mais gostava era do tradicional baile que era realizado na segunda-feira de Carnaval. O lugar também serviu de palco para a apresentação de grandes artistas, entre eles o rei Roberto Carlos e o humorista Chico Anysio. Raulzito quando começou, também realizou inúmeros shows lá”, recorda o atual presidente do Centro Espanhol, o descendente galego Humberto Campos. Por mais de 20 anos, o local funcionou como um centro aglutinador da cultura espanhola na Bahia. Porém, mais uma vez o espaço passou a ficar pequeno para acolher tantos associados. Além disso, naquela época as atividades desenvolvidas ali não atraíam mais os jovens. Enquanto o Centro Espanhol mantinha os moldes de clube social, os outros clubes da cidade já ofereciam piscina, quadra de esportes, entre outros espaços de lazer. Não restava mais dúvidas, precisavam construir uma nova sede e para isso, começaram a visitar terrenos onde o clube pudesse ser instalado. Com a escolha do local, o Morro do Cristo, na Avenida Oceânica, foi lançada a venda dos títulos para arrecadação de fundos para a construção do empreendimento. “Lembro que eu era garoto e meu pai saía de porta em porta onde havia espanhóis vendendo títulos do clube. Foi uma grande batalha para construir isso aqui”, recorda Humberto Campos.

Festa típica

O terreno de 30 mil metros foi adquirido em 1967 e não tardou para que fosse lançado um concurso em nível nacional para escolha do projeto arquitetônico. Venceram os arquitetos baianos Jader Tavares, Fernando Frank e Oto Gomes, que apresentaram um projeto em formato de S. Por falta de recursos, o megaprojeto não foi concluído. Mesmo assim, depois de quase sete anos em obras, a inauguração da nova sede aconteceu em 7 de julho de 1975. Foram três dias de festa: primeiro foi realizado um coquetel para 500 sócios e autoridades. Já no segundo dia, uma festa dançante com orquestra e, em seguida, uma festa típica, com muitos elementos do folclore espanhol. Depois de mais de um mês de ensaio, sob o ritmo dos sons de violão, bandolim, pandeiro e cavaquinho, com direção musical da professora Helena Escariz, um grupo de dança espanhola se apresentava para o grande público. “Lembro que metade de nós estava vestida de espanhola e a outra metade de baiana. Era uma forma de representar o elo de ligação entre os dois povos”, considera a descendente galega Tina Leiro.

Antes de a nova sede do Centro Espanhol ser inaugurada, um grupo de amigos da província de Ponteareas decidiu criar um novo clube. O Centro Espanhol havia crescido bastante e perdeu um pouco do perfil inicial de reunir apenas espanhóis e descendentes e aquilo não agradava a alguns. “Quando o Centro mudou para a nova sede perdeu nossa identidade, passou a ser um clube grande de Salvador, como qualquer outro”, considerou o ex-presidente do Clube do Rio Tea, Manuel Groba Gonzalez, 73 anos. A idéia de fundar um outro clube foi motivada essencialmente pelo desejo de ter um espaço que congregasse apenas patrícios e quase 30 anos depois, esta ainda continua sendo a máxima que rege o espaço. Até ano passado, a diretoria era composta somente por pessoas da província de Ponteareas. Ali, eles se reúnem todos os domingos. Enquanto os homens se distribuem nas mesas jogando cartas, as mulheres batem papo e as crianças se dividem entre as piscinas e a quadra de esportes.

Mas a hora do almoço é sagrada. Diferente do nosso horário, é às 14h que todos se sentam nas mesas compridas de mármore e como numa realização de um ritual, são os membros da diretoria que servem a todas pessoas presentes. Em seguida, se sentam e são servidos pelos associados. O cardápio é variado. Geralmente predomina o churrasco, mas nas ocasiões especiais eles não abrem mão dos pratos da culinária espanhola. Além da conhecida paelha, o cardápio inclui o calhos – prato à base de mocotó, estômago de boi e grão-de-bico -, o cozido galego, entre outras iguarias. E para beber, um bom vinho.

Mas os clubes não eram a única diversão dos galegos. Desde que o Galícia Esporte Clube foi fundado, em 1933, quase todos os domingos os que gostavam de futebol tinham um compromisso importantíssimo: ver o time jogar. Quando questionado pela reportagem sobre a história da imigração da família para a Bahia, com voz mansa, o arquiteto Afonso Baqueiro Rios, 75 anos, vai logo dizendo: “Meu pai contava, mas não lembro de mais nada, pergunte para o meu irmão que ele sabe. A nossa diferença de idade é de apenas um ano, mas ele tem uma memória!”. Se a memória é curta para lembrar de determinados acontecimentos do passado, quando o assunto é o Galícia Futebol Clube, seu Afonso não titubeia na hora de fazer a escalação da equipe que considerou uma das melhores. Apesar da emoção em relembrar os tempos áureos do Galícia, o timbre de voz continua baixo e assim como um técnico que faz a escalação para uma grande decisão de campeonato, ele cita os nomes dos craques: Nova, Carapiau, Daruana, Nevezinho, Ferreira, Paumer, Lôro, Curto, Palito, Novinha e Isaltino. Ainda pequeno, vestia a camisa e ia torcer pelo time. “Eram os empregados do armazém de meu pai que me levavam para ver o jogo. A gente assistia ao futebol no estádio Artur Moraes do telhado do Café Rio Branco, lá na Graça”, recorda. Anos mais tarde, aquele pequeno apaixonado torcedor ocuparia a cadeira da presidência do clube e a filha era uma das organizadoras da torcida Supergal. Mônica Leiro Baqueiro cresceu ouvindo resenhas esportivas e a paixão do pai pelo esporte era tanta que ela e os dois irmãos acabaram também bastante envolvidos. Eles não perdiam os jogos do Galícia. Até mesmo quando o time ia jogar no interior do estado, lá estavam eles bradando nas arquibancadas. “No início dos anos 80, acabamos criando um grupo de entusiastas do Galícia. Estávamos presentes em todos os jogos e ainda saíamos em caravana pelo interior. A torcida era pequena comparada à do Bahia e à do Vitória, então procurávamos nos destacar com a faixa”, conta, lembrando que gritava com o juiz, esbravejava, dava entrevistas. Como uma das líderes da Supergal, fazia tudo como manda o figurino. E onde quer que fosse, quando o time entrava em campo com o uniforme azul e branco com um emblema de Santiago, lá estavam os galegos e os seus descendentes vibrando por mais uma vitória.

Terra estranha
Galegos deixaram a Europa em busca de uma vida melhor no Brasil

“A terra é verde, as casas son de pedra eterna, mentres os pequenos ríos regan todas as lembranzas e todos os adeuses e todas as palabras nunca ditas. Entre tanto a chuvia e o ceo gris auguran novas saudades. Fillos que parten, nais que choran ausências e futuros incertos. Em Fornelos, como noutras vilas dos arredores de Pontevedra, os mozos partían a novos mundos. Alguns soñaban co nosso Portugal tan querido e tan achegado, outros arelaban chegar à Bahia de Todos os Santos. Todos fuxíam da fame e dun futuro que em Galiza estaba prohibido”

(Lóis Pérez Leira – Galegos na Bahia de Todos os Santos)

No porto de Vigo era dado o adeus. Aquele aceno podia representar a última despedida. Por isso, as mulheres casadas vestiam luto e só tiravam quando recebiam a primeira carta. Nos grandes navios partiam os imigrantes galegos rumo à Bahia e com eles o sonho de conquistar uma vida melhor e um dia retornar ao país natal com uma vida próspera. Os conhecimentos acadêmicos praticamente não existiam. Na bagagem, carregavam apenas a experiência de vida e uma imensa vontade de retornar vitoriosos. Havia gente de toda idade disposta a enfrentar o desafio. Homens que deixavam para trás suas famílias com a promessa de voltar para buscá-las, rapazes e até mesmo crianças. A embarcação ganhava as águas do oceano Atlântico e a tripulação de imigrantes vivia as perspectivas de um futuro incerto.

Aos poucos o navio ia se afastando e a terra natal se transformando em um pequeno ponto no horizonte até sumir de vez. Na viagem, que podia durar até um mês, as lágrimas insistiam em cair. Nem bem partiam e já viviam os primeiros momentos de saudade da pátria e dos familiares, a morriña. “Fui para o porto de Vigo muito eufórico e contente, entretanto, na hora de me despedir de minha avó, disse-lhe que não queria partir. E ela, depois de muito sacrifício, abraçou-me, beijou-me e disse-me: vai-te meu filho, vai-te”, lembra o galego natural de Concello de Cotobade, Manoel Antas Fraga, 72 anos, dos quais 58 vivendo em Salvador. A primeira visita à Espanha só ocorreu nove anos depois.

Vez ou outra, a expressão da face se transformava. O rosto triste dava vazão a um sorriso de felicidade diante das possibilidades que eles imaginavam que se descortinariam num futuro bem próximo. A situação econômica da Galícia, uma das regiões mais pobres da Espanha, impulsionava a imigração. Sem chances no país de origem, uma das poucas alternativas era batalhar pelo sonho de uma vida melhor em terras distantes. “A imigração dos galegos para Salvador não pode ser entendida simplesmente como projeto individual, mas sim como um componente vinculado à ordem familiar galega. Todo o projeto de emigração é elaborado com a família, desde o suporte financeiro até os parentes e amigos que deverão acolher o novo membro em Salvador”, explica o antropólogo Jeferson Bacelar, pesquisador do Centro de Estudos Afro-Orientais (Ceao), que possui várias publicações sobre o assunto.

No mapa, era a recém-descoberta América que figurava como a menina dos olhos. “Lá na Galícia vivíamos da agricultura. Trabalho havia, mas o que ganhávamos não era suficiente para sobrevivermos”, conta Manoel Antas Fraga. Séculos antes, em carta enviada a D. João, Pero Vaz de Caminha descrevera o Brasil como “uma terra onde se plantando tudo dá”. E anos mais tarde, o país seria uma das rotas escolhidas pelos galegos para tentar a sorte. Bastaram vir os primeiros desbravadores para o movimento migratório permanecer contínuo por um bom tempo. Seu Manuel Fraga conta que via as pessoas que partiram chegando em boas condições, e isso o impressionava. “Nós não tínhamos nada e eles chegavam com dinheiro suficiente para cobrir as suas necessidades e a de seus familiares. Isso, evidentemente, na minha mocidade criava uma ilusão”, recorda.

A embarcação atracava no cais do porto e lá estavam os galegos se deparando e tendo o primeiro contato com a Salvador provinciana. A visão de mundo do emigrante, suas crenças, valores de forma geral, estavam vinculadas às tradições da aldeia e da paróquia e, de forma específica, à família. E no seu projeto, pensava a nova sociedade como provisória, onde apenas iria enriquecer para retornar com prestígio à sua ordem tradicional. O que ele não imaginava é que a própria sociedade adotiva, sob outra vertente, o ajudaria a manter fortes vínculos com a Galícia. Em meio ao clima de ansiedade diante da chegada, o maior susto eles tomavam logo nos primeiros minutos, antes mesmo de descer do navio. Para um povo que não estava acostumado ou sequer havia visto na vida uma pessoa de pele negra, o vaievem de estivadores lhes causava um enorme estranhamento. Não por racismo, mas, pelo simples fato de até então nunca ter se deparado com uma pessoa negra. “Logo que meu pai chegou aqui, o maior choque foi quando viu os negros”, conta o descendente galego, Álvaro Camiña. Antes mesmo da sineta do navio alarmar anunciando a chegada, amigos, parentes ou conhecidos já os aguardavam. E era sob o esvoaçar de lenços que simbolicamente faziam uma verdadeira festa no ar que eram dadas as boas-vindas. Ali tinha início a batalha.

Trajetória de patrões
Espanhóis juntam dinheiro e conseguem comprar estabelecimentos comerciais

Pepe Faro, o dono da Perini, começou com um pequeno negócio em Salvador *Foto: Reprodução-Paulo Macedo/ Acervo da comunidade galega na Bahia

Depois de anos de trabalho pesado, a recompensa. O capital que conseguiam juntar era pouco, mas o suficiente para a abertura de um pequeno negócio onde vislumbravam a possibilidade de ascender economicamente e tornarem-se patrões. O galego Manuel Cal Pérez chegou a Salvador em 1949, aos 12 anos, e não tardou para arranjar o primeiro emprego, na Pastelaria Aliança. Tempos mais tarde, abriria as portas da Padaria Pery. “Na infância, cansei de ver meu pai acordar às 4h, colocar o balaio de pão nas costas e sair para entregar o pão”, recorda o filho, hoje presidente do Hospital Espanhol, Roberto Cál Almeida.

Em todo canto da cidade podia se encontrar um estabelecimento de propriedade de galego. “Lembro que lá na Mouraria, além do armazém de meu pai, o 68, havia ainda o Armazém Torres, a Padaria São Miguel, o Café Coroa, todos de propriedade de espanhol”, conta Maria del Rosário Suárez Alban, que veio para Salvador com poucos meses de vida. Só para se ter uma idéia desta expansão, de 1900 a 1950 foram registradas na Junta Comercial da Bahia 590 firmas cujos proprietários eram galegos, sendo 81% delas no ramo de alimentos e bebidas. A presença no setor alimentício era tão forte que, nas primeiras décadas do século XX, eles foram os principais alvos de uma série de manifestações populares em protesto ao elevado custo dos alimentos. As manifestações, que ora se refletia em invasões, fechamentos de casas comerciais e xingamentos aos galegos, foram cessando e hoje ressurgem apenas nas lembranças que esta gente tem dos tempos difíceis. Quase todos têm algo a contar sobre o período. “As pessoas diziam que todo galego era ladrão. Que vínhamos para cá ganhar dinheiro e ir embora. Na verdade só vim para o Brasil por medo da guerra, vim como desertor do Exército” esclarece o galego Lino Cerviño Duran. Por conta da discriminação que sofriam, só mais tarde é que seu Lino registrou também no consulado espanhol os oito filhos que nasceram na Bahia. Outra defensora ferrenha da causa é a descendente de galegos Noélia Leiro Baqueiro: “As pessoas diziam que os galegos eram ladrões. Ladrões não! Eram pessoas dedicadas ao trabalho, que não tinham hora para dormir”.

Grandes empresários

Apesar do contexto de exploração trabalhista, muitos galegos que antes figuravam no anonimato hoje têm nome de destaque na economia baiana. Este é o caso de José Faro Rua, de empregado e pequeno comerciante se transformou em um grande empresário e comanda hoje uma rede de delicatessens, a Perini, com 750 funcionários. A batalha que travou quando deixou a Galícia para tentar a sorte na Bahia foi vencida, mas seu Pepe recorda que precisou derramar muito suor para isso. Logo que chegou foi trabalhar em um armazém lá no Tororó. “A gente abria às 6h e só fechava às 22h e o trabalho era de domingo a domingo. Naquela época, ainda não havia as leis trabalhistas e, apesar das dificuldades, só existiam dois caminhos: vencer ou ser vencido”, avalia seu Pepe, denominação comum na Espanha a todo José. Depois de trabalhar durante cinco anos no armazém Eduardo Martinez e Cia. Ltda., com muito esforço juntou-se ao tio e ao irmão para abrirem um negócio próprio. “Saímos do armazém e decidimos montar nosso negócio, porém, não havia dinheiro. O capital que tínhamos era quase zero”, recorda o galego do povoado de Mondariz, na província de Pontevedra. Mesmo assim, juntaram os três e compraram a Panificadora Elétrica da Barra com a promessa de quitar a dívida em três anos. A vontade de vencer era tão grande que conseguiram pagar em dois anos e meio. Ousadia não faltou à família na hora de aceitar o desafio. A panificadora já tinha tradição na Barra e contava com um quadro de 48 funcionários. Além disso, estava situada em um lugar de destaque, num bairro elitizado e era referência no mercado. “A nossa tarefa era dar continuidade ao trabalho que já vinha sendo feito”, afirmou Pepe.

Logo nos primeiros anos, a maioria que aportou na cidade encontrou muitas dificuldades e teve que ser resistente para encarar situações adversas. A mãe de dona Maria del Rosário era filha de espanhóis, mas nasceu no Brasil, no Pará. Depois de algum tempo de trabalho, o avô conseguiu juntar um dinheiro e retornou com a família à Galícia. Mas as situações difíceis em que aqui se depararam jamais foram esquecidas “Minha avó falava tão mal do Pará que minha mãe resistiu o quanto pôde a vir para o Brasil. Quando ela casou, por exemplo, meu pai já estava bem estabelecido aqui em Salvador e uma das exigências que meu avô fez antes do casamento foi que eles não viessem morar no Brasil”, conta a coordenadora do Centro de Estudos Galegos, Maria del Rosário Suárez Alban, 68 anos. Anos mais tarde, por conta da Guerra Civil Espanhola, o destino teve que ser mudado.

O galego Manoel Peso Hermida também retornou à pátria com uma péssima impressão da terra onde ele havia vindo tentar a sorte grande. Ele chegou a Salvador na primeira década do século XX, com pouco mais de 20 anos. Aos poucos, o sonho de ganhar dinheiro na América vai se desfazendo. Devido à má alimentação, excesso de trabalho e péssimas acomodações, foi vitimado pela tuberculose. Ele conseguiu retornar à Espanha com vida, porém, com resquícios da doença. “Por conta da experiência, meu avô sempre falava à minha mãe que nenhum descendente dele voltaria ao país onde foi maltratado. A culpa não era do Brasil, mas, sim, do regime de trabalho ao qual foi submetido”, afirma o descendente galego, Humberto Campos.

Hospital espanhol

Àquela época, já existia a Real Sociedade Espanhola, fundada em 1� de janeiro de 1885. “Naquele período havia muitas dificuldades de assistência à saúde. Por isso, os espanhóis mais abastados que já estavam aqui resolveram fundar um hospital para acolher melhor os que chegavam e, ao mesmo tempo, para assegurar assistência à própria família”, esclarece o atual presidente do Hospital Espanhol, Roberto Cál Almeida. A primeira sede estava situada no Campo da Pólvora e a entidade prestava somente assistência domiciliar. As necessidades foram crescendo e 12 anos depois os galegos compraram um terreno na Barra para erguer o prédio onde hoje está situado o Hospital Espanhol. Segundo relatos, foi com grande dificuldade que os sócios conseguiram reunir 40 contos e cinco mil réis para a compra do terreno. Com o dinheiro no caixa, havia ainda outra barreira a vencer: o proprietário do terreno exigia um comprador português para o patrimônio. Sendo assim, convocaram um português para ser o representante laranja da colônia espanhola no leilão onde o terreno seria oferecido. Com a compra efetivada, não tardou para ser iniciada a construção de 14 quartos para internamento dos associados. Desde o início, os princípios foram baseados nos traços marcantes da cultura espanhola, prezando o culto ao trabalho, à família e às instituições e oferecendo outros serviços além do hospitalar. A Sociedade Espanhola dava auxílio financeiro, pensões, funerais, passagens para a Galícia e havia ainda a demanda daqueles que necessitavam de repatriação, por vários motivos, principalmente quando contraíam uma moléstia incurável. O amor à terra natal era tão grande, que, na iminência da morte, sentiam a necessidade de retornar para morrer junto aos seus. Com o tempo, o local foi ficando pequeno para atender às necessidades e novas reformas eram empreendidas. Mais de um século depois, o hospital é referência na capital baiana e dispõe de 205 leitos.

* Reportagem publicada no Correio da Bahia, 14/05/2004.

15 Comentários leave one →
  1. abril 18, 2010 2:13 pm

    Mais, muito mais sobre os galegos no Brasil, visitem http://www.fillosdegalicia.com.br

  2. Anônimo permalink
    outubro 10, 2011 4:49 am

    adorei – mas preciso ler com calma, e é preciso expandir ao Rio de Janeiro. Miguel Fernández, Rio de Janeiro, mf2_47@yahoo.com.br

  3. Aamad permalink
    janeiro 30, 2012 10:12 pm

    Louco ao dizer que não há traços galegos na cultura do Brasil. O nordeste fala mais galego que português. Não é uma herança recente, e sim ainda da formação do Brasil, entre 1600 e 1700. Não é a toa que Nordestinos com baixo nível educacional ou de interiores onde hávícios de linguagem falam “pra riba”, entonce, num (as vezes substituidos por não), Vixe Maria (vixe de virxen, do galego antigo, que significa virgem). Falando isso você desconsidera o mais obvio. Quando uma criança nasce loira no nordeste, o primeiro apelido que recebe é de “galego”, em senso comum aos tempos passados, onde a maioria dos loiros ou pessoas mais claras eram oriundas da Galícia.

    O portugues do nordeste, muitas vezes tido como um dialeto, nada mais é que a perfeita fusão do Português nortenho antigo e do galego, somado com vocabulario tupí e africano.

    Repense um pouco…

  4. Luiz Henrique Cal Gonzalez permalink
    fevereiro 26, 2012 1:43 am

    Gostaria de obter informações sobre os galegos de Ponte Caldelas no Rio de Janeiro. Meu avô (Manoel Cal Paz) nasceram lá e juntou-se a seu irmão (Victor Cal Paz) aqui no Rio se estabeleceram, tiveram comércio (Casa Fidalga) por volta de 1890. Meu tio avô foi um dos fundadores da Empresa Brasileira de Pubicidade. Se alguém puder me ajudar com qualquer informação, ficaria muito grato.

  5. maio 12, 2012 2:09 pm

    Muito bom!
    Aguardem meu livro sair:” A Filha do Padeiro Galego”

    São depoimentos de familiares. A minha história, passada no sobrado da Padaria Moderna.

    Amália Gonzalez Grimaldi – Frank filha de Manuel Gonzalez Perez da Padaria Elétrica Bahiana- Ladeira da Praça. Ele era sócio de Serafim Gonzalez, cunhado de Teodoro Martinez da Padaria Quintela(rua da Faisaca e Av Sete); Padaria Moderna – no Garcia, também com a família Raña. Eram três padarias. Quintela, Moderna e a Bahiana de galegos de Pontevedra e Avión.

  6. itamar tourino permalink
    julho 26, 2014 4:12 am

    Gostaria de obter informações sobre o meu avô que veio de ponte vedras josé tourino franco provavelmente no ano de 1860 em diante, soube que chegou na bahia depois foi até santos-sp e foi morar em minas gerais.

  7. Fernanda Correa do Prado permalink
    fevereiro 19, 2015 8:33 pm

    Gostaria de obter informações sobre a família de meu sogro, Enrique Rodrigues Puntiges. Sei que ele foi casado com Lealdina Garrido Garrido, e que era natural de Pontevedra Fornelos de Montes Espanha. Assim que chegou no Brasil foi contratado para trabalhar com seu tio na Bahia por uma firma na época chamade de Garcia companhia, estabelecida na rua Avenida João cesto numero 351, na cidade de Salvador, Bahia. Ele era filho de Elvira Rodrigues.

  8. junho 14, 2015 11:45 pm

    Sou neto do espanhol Camilo Pinero Adan. Gostaria de saber como obter informações sobre sua chegada ao Brasil.

  9. Anônimo permalink
    outubro 1, 2015 10:26 pm

    Sou filho de espanhol de Enrique Rodriguez Pontiges, e meu grande sonho é de conhecer alguém da família do meu pai, pois só conheço minha tia por uma foto muito antiga que ele guardava com muito carinho, ele não falava muito da família dele, pois ele era muito reservado e foi falar muitos anos depois, quando ele já estava doente, pois ele não gostava de falar sobre este assunto, mas eu percebia que ele ficava muito triste quanto tocávamos no assunto sobre sua família na Espanha, mas ele falava com um amigo dele que tinha muita vontade de rever a sua família na Espanha, mas infelizmente não foi possível, pois ele faleceu a alguns anos. A única informação que eu tenho é que quando ele chegou aqui no Brasil ele trabalhou para o tio dele em Salvador em uma companhia na época chamada de companhia Garcias estabelecimentos em 1950. Ele era natural de Fornelos de Montes província de Pontevedras.

  10. Jorge Medel Severo permalink
    outubro 19, 2015 1:16 am

    Sou de uma geração um pouco distante de espanhóis que imigraram para a Bahia, tenho certeza que meus trisavós falecidos são espanhóis mas infelizmente no nordeste as pessoas dos cartórios não tem força de vontade para ajudar e é muito dificil eu conseguir voltar mais que isso, visto que só consegui documentos até aí e não tenho a menor idéia de onde prosseguir,

  11. Tiago permalink
    novembro 20, 2015 2:03 am

    Aamad, seus comentários são pertinentes! muito obrigado

  12. dezembro 13, 2015 5:31 pm

    Galegos aqui no Brasil na era Colonial eram Portugueses cujo alguns eram ruivos , brancos .

  13. Cleonice Fernandes Costa permalink
    agosto 8, 2016 12:32 am

    Olá
    Também gostaria de saber a procedência de Manoel Fernandes Patez, que veio pra a Bahia, creio eu que entre 1853 e 1860
    Grata
    Cleonice Fernandes Costa

  14. bando de burro que acha que descender de algo é ser superior permalink
    fevereiro 28, 2017 6:40 am

    O galego é 99% portugues seus burros

  15. gleydson de jesus gomes araujo permalink
    julho 7, 2018 2:03 pm

    tenho poucas informações dos meus antepassados e queria obtê-las. um dos Meus bisavôs paternos era baiano e dizia ser filho (ou neto, não sei ao certo) de espanhóis e portugueses. Seu nome era Jeremias Porfírio Suares. Se alguém tiver alguma informação gostaria de ter acesso. Obrigado

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