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A situação do português na Galiza

dezembro 14, 2009

Por Alexandre Banhos Campo (*)

1.- Os antecedentes

A língua da Galiza é uma língua que não se acha reduzida ao espaço do território regional da Galiza.

O português nasceu na Galiza, mas esse espaço pouco tem a ver com o território que atualmente usufrui o nome de Galiza, pois essa Galiza histórica e originária entendia-se do mar Cantábrico até o Tejo.

Na Galiza, conhece-se popularmente o português da Galiza como galego por ter continuado a Galiza espanhola usufruindo em exclusiva o nome. Quando a língua da Galiza se incorporou a universidade foi designado como idioma galego-português. A Academia Galega da Língua Portuguesa chama-lhe com precisão português da Galiza.

A parte da Galiza que continuará usufruindo o nome, perde a sua real independência na batalha de Toro, de 1 de Março de 1479, que supõe a renúncia da incorporação à coroa de Afonso V, de toda a Galiza, e o começo do processo que o cronista de Castela Zurita, chamou de doma e castração do reino da Galiza.

O processo de doma foi determinante do estado em que cairia o português da Galiza.

2.- A unidade da língua a norte e sul é uma certeza da ciência linguística

Toda a lingüística mundial, excepção dos trabalhos posteriores ao ano 70 no estado espanhol, afirma a unidade do romance ocidental peninsular.

Com certeza que o português da Galiza, desde 1500 sofreu um processo de castelhanização, mas tamém desde o século XV estivo incorporando termos novos que iam aparecendo ao sul do rio Minho.

Além das dificuldades na prática do uso da escrita (ortografia) comum da nossa língua, forma parte do pensamento cultural e político da tradição galeguista, a afirmação de ser a mesma língua o português da Galiza e o português de Portugal… e o português do Brasil.

O franquismo liquidou a elite galeguista com a morte e o exílio e não só perseguiu o português da Galiza, senão que também tutelou o seu uso, dentro das várias formas de controlo do regime, sempre amparou uma visão do português da Galiza como um galego regional e espanhol. É dizer, a ditadura vai supor a ruptura da tradição galeguista, de tal jeito, que as novas gerações a aparecerem nos anos 60 do século passado, são desconhecedoras dessa tradição.

Na década dos anos 1970, na que as elites já alviscavam a pronta mudança, o sistema universitário espanhol enxerga de maneira radical (ILG) a afirmação ideológica e «politicamente correta» no contexto espanhol, que é apresentada como científica, da natureza distinta das línguas galega e português.

A morte do ditador, e o começo da transição democrática vão supor a incorporação parcial do português da Galiza ao sistema educativo sob uma perspectiva «isolacionista».

3.- Os resultados do modelo «normalizador»

Em 1980, 84 per cento dos galegos viviam no português da Galiza. 29 anos depois, o galego é a língua habitual de 54 por cento. Porém há que ter em conta a pirâmide de população da Galiza com forte envelhecimento, o que nos da os seguintes dados: só é a língua habitual de 34 per cento dos menores de 30 anos; só é a língua habitual de 20 per cento dos menores de 20 anos; só é a língua habitual de 5 per cento dos menores de 10 anos. O processo de substituição linguística na Galiza acelerou-se nos últimos anos

4.- Desconstruindo o modelo da Galiza (dominada)

Paralelamente a este processo, existe na Galiza um movimento da sociedade civil de grande importância conhecido por reintegracionismo, – reintegrarmo-nos no português-. No modelo galego estupefaciente de substituição, aparentemente dedicam-se muitos recursos nisso tão difuso da proteção do galego.

O modelo reintegracionista, na sua prática de intervenção social e lingüística, tem que desconstruir o modelo social em vigor, como única maneira da sua superação e de colocarmos raízes sólidas para um projeto de futuro da Galiza na sua língua nacional, o português da Galiza.

5.- Os problemas que se enfrentam

  1. A passividade e permeabilidade ante o modelo castelhanófilo de normalização do português de Galiza.
  2. O desconhecimento da língua nacional da Galiza como língua plena para estarmos no mundo, e a utilização dela mui hibridizada polo castelhano, verdadeira norma de correção do galego, secundarizado e dependente.
  3. A não separação do modelo galego do modelo castelhano
  4. A interiorização constante do castelhano na Galiza como língua normal dos galegos
  5. O problema de se estar fazendo castelhano em galego.
  6. A ruptura na transmissão inter-geracional.
  7. O subtil racismo anti-português
  8. O papel de centralidade cultural e ideológico que ocupa o castelhano.

O Português da Galiza

A língua da Galiza, o português, é uma língua perfeitamente normalizada no mundo, que tem a pluralidade diatópica própria das línguas estendidas por todos os continentes.

Mas no estado espanhol dá-se uma situação de reconhecimento lingüístico assimétrico no que uma das línguas tem carácter oficial pleno e a outra(s) co-oficial, e essa co-oficialidade é regulada mentres não existe nenhuma regulação dos usos do castelhano nos territórios de língua própria e originária. Aliás, esse seria o primeiro plano de qualquer política de sucesso normalizador dos usos das línguas.

O século XXI é o do trunfo na rua de forma bastante massiva do reintegracionismo. Em grande medida isso é pola sensação de derrota e de batalha perdida pola língua, que transparecem e expõem já com toda naturalidade os defensores do modelo filocastelhanista (isolacionismo).

http://www.pglingua.org/index.php?option=com_content&view=article&id=1631:a-situacao-do-portugues-na-galiza&catid=3:opiniom&Itemid=80&Itemid=36

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